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Daniela Melo disse que o resultado das intercalares não se traduzirá necessariamente num selo de aprovação de Trump, que tem percorrido o país em comícios de apoio a candidatos

“Candidatei-me duas vezes. Ganhei duas vezes”, disse o ex-presidente Donald Trump no Iowa, num dos últimos comícios antes das eleições intercalares. “Agora, para tornar o nosso país bem-sucedido, seguro e glorioso, vou muito, muito, muito provavelmente fazê-lo outra vez.”

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As declarações de Trump ecoaram em Sioux City numa altura em que o seu círculo próximo discute a data do anúncio da recandidatura, que deverá ser a 14 de novembro, uma semana depois das intercalares. Aí, Trump já saberá se os republicanos vão voltar a liderar uma, duas ou nenhuma câmara do congresso. Isso será decisivo para o tom da campanha de Trump e para os dois anos finais do mandato de Joe Biden. Se os democratas tirarem um milagre da manga e mantiverem o controlo do congresso, Biden poderá continuar a negociar pacotes legislativos para avançar a sua agenda, mostrando trabalho feito a caminho de uma possível recandidatura.

Se os republicanos tomarem o poder, poderão efetivamente limitar a ação de Biden e tornar a segunda parte do seu mandato numa interminável sucessão de bloqueios, tornando Washington, D.C. num fórum onde muito se grita e nada se faz. Poderão também suspender ou mitigar o envio de ajuda financeira e militar para a Ucrânia, algo que o líder republicano na Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, já aventou.

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Subscrever A cientista política luso-americana Daniela Melo, professora na Universidade de Boston, salienta a fasquia elevada destas eleições. “Não me lembro de haver tanto interesse sobre umas intercalares nos últimos vinte anos”, referiu. “O panorama destas eleições parece-me mais complexo ainda que em 2018.”

Esse foi o ano em que os democratas, unidos contra a administração Trump, limparam a eleição na Câmara dos Representantes e ganharam 40 assentos, virando a maioria. No entanto, não conseguiram reconquistar o Senado, cujos mandatos têm a duração de seis anos (e não dois como na câmara baixa) e como tal não vão todos a votos ao mesmo tempo. A viragem do Senado só aconteceu em 2021, após as eleições especiais na Geórgia, que deram aos democratas o mesmo número de senadores que os republicanos, 50-50. Como a vice-presidente Kamala Harris é democrata e tem o voto de desempate, o partido de Biden conseguiu o controlo do Congresso.

Esse controlo foi essencial para as vitórias legislativas da administração Biden, incluindo o Inflation Reduction Act, com medidas importantes ao nível do clima e da negociação de preços na saúde, o CHIPS Act, para incentivar a produção doméstica de semicondutores, e o PACT Act, para ajudar veteranos de guerra que contraíram doenças em missão. Este Congresso também aprovou a primeira legislação bipartidária sobre armas em trinta anos. E foi o controlo do Senado que permitiu a Biden enviar para o Tribunal Supremo a primeira juíza afro-americana, Ketanji Brown Jackson, além de diversas outras nomeações.

Agora, o caminho que a Casa Branca de Biden vinha fazendo pode ser travado abruptamente, deixando ao presidente pouco mais que o poder de veto e as ordens executivas.

Os cenários possíveis Depois de meses com os democratas a surpreenderem nas sondagens, os republicanos regressaram à condição de favoritos a ganharem as duas câmaras, de acordo com a tradição – a oposição ganha sempre lugares contra o partido do presidente nas intercalares. Segundo o modelo preditivo da plataforma agregadora de sondagens FiveThirtyEight, as probabilidades de que os republicanos ganhem todo o Congresso são de 54 em 100 . Na corrida à Câmara dos Representantes, as chances dos republicanos são extremamente elevadas, 83 em 100. Na competição pelo Senado, as contas são mais apertadas mas as sondagens favorecem os republicanos 55/45.

O cenário mais provável é, portanto, que os republicanos ganhem as duas câmaras do congresso, colocando um ponto final nas ambições legislativas da administração Biden porque as iniciativas democratas não passarão em nenhuma das câmaras. O Senado republicano também poderá bloquear as nomeações de Joe Biden, tal como fez com Barack Obama, que impediu de nomear Merrick Garland para o Tribunal Supremo.

O aumento do voto por correspondência pode significar que os resultados finais das eleições não serão conhecidos nesta terça-feira.

O segundo cenário em termos de probabilidades é que os republicanos tomem a Câmara dos Representantes mas os democratas mantenham o controlo do Senado. Isto dividiria o Congresso e tornaria pouco expectável a passagem de legislação, mas manteria intacta a capacidade de confirmar nomeados democratas.

O terceiro cenário, que constituiria uma grande surpresa numa altura de descontentamento com a economia e elevada inflação, seria os democratas conseguirem manter o controlo das duas câmaras. A acontecer, isso poderia atribuir-se ao impacto da revogação do direito federal ao aborto com o voto feminino suburbano e ao aumento significativo do voto jovem, que normalmente é parco em intercalares, mas que parece bem posicionado para bater recordes nestas eleições, segundo os indicadores que vêm do voto antecipado e por correspondência. A última sondagem NBC News, publicada no domingo, mostra que o entusiasmo entre eleitores democratas subiu em outubro (de 69% para 73%), enquanto o dos republicanos diminuiu (de 78% para 73%).

O aumento do voto por correspondência pode, no entanto, significar que os resultados finais das eleições não serão conhecidos nesta terça-feira, à semelhança das presidenciais de 2020. “Há possibilidade que em alguns estados demore alguns dias a percebermos exatamente a contagem final dos votos”, avisou Daniela Melo. Nesse cenário, com margens apertadas, é provável que haja recontagens automáticas e processos legais, atrasando ainda mais as contas finais.

“Na noite das eleições os democratas vão ter os nervos completamente à flor da pele”, considerou a especialista.

O regresso de Trump Um Biden fragilizado pela inoperância do Congresso será uma dádiva para a campanha de Trump, mas o regresso do ex-presidente também pode reativar os democratas. E, para Daniela Melo, não é sequer claro que Donald Trump tenha caminho aberto para a terceira nomeação republicana à presidência.

“Não parece evidente que a vitória da ala trumpista na Câmara dos Representantes dite que Trump será indiscutivelmente o candidato republicano”, afirmou a politóloga. “Nas últimas semanas, o partido tem-se mobilizado para que Trump não seja selecionado”, considerou.

A professora citou o regresso de Paul Ryan, ex-líder republicano da Câmara dos Representantes. “De repente, aparece a dizer que qualquer um menos Trump consegue ganhar as eleições para os republicanos”, indicou.

Ryan disse num segmento do canal Fox Business que o novo eleitor imprevisível é o eleitor suburbano, que gosta dos republicanos mas não gosta de Trump. “Penso que qualquer pessoa não chamada Trump tem muito maior possibilidade de ganhar a Casa Branca para o nosso lado”, afirmou o ex -speaker.

Vitória republicana nas duas câmaras do Congresso colocará ponto final nas ambições legislativas da administração Biden.

Daniela Melo disse que o resultado das intercalares não se traduzirá necessariamente num selo de aprovação de Trump, que tem percorrido o país em comícios de apoio a candidatos.

“Há uma diferença grande entre o que se está a passar nas intercalares e o que se vai passar a nível nacional, porque aí o partido sabe que não pode fraturar”, sublinhou.

Isso é algo que está em risco neste momento. “O partido republicano é um partido em vias de fraturar”, disse a especialista. “A liderança do partido percebe que tem aqui duas alas: por um lado, estas intercalares vão reforçar a ala trumpista. Mas a nível nacional, a minha análise é que seria uma prenda para os democratas se Trump fosse outra vez o candidato.”

Joe Biden tem popularidade baixa, em torno dos 42%-44%, e a sua vitória em 2020 foi muito mais impulsionada pela rejeição do outro lado (Trump) que pelo abraçar das suas ideias. Ou seja, Biden venceu em cima de uma coligação negativa contra o ex-presidente. “A eleição deixa de ser sobre o Biden e passa a ser mais uma vez sobre Trump“, frisou Daniela Melo.

Porque Biden não tem uma base tão fiel como a do ex-presidente, mas também não gera tantos anti-corpos como Trump gerou. O regresso dessa figura controversa reativaria o sentimento de rejeição. “Para Biden, isso seria um bote salva-vidas.”

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